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Carola Ponto e Vírgula

Carola Ponto e Vírgula

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         O assunto de hoje é algo que, até para mim, é por vezes difícil de explicar. Há quem lhe chame “saudades”. Não sei será bem essa a definição, mas se calhar é provável que seja… vamos admitir que são saudades.

 

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         Primeiro é quase impossível dizer quando, nem como é que começou, parece que foi algo que esteve sempre lá desde sempre.

         Lembro-me de estarmos ali, várias vezes, à frente do mundo: dois jovens juntos, de mãos dadas, aprendendo passo a passo como melhorar e seguir em frente. Contando sempre com os ensinamentos e apoio daqueles que, mais experientes que nós, se enchiam de orgulho e nos viam cada vez mais confiantes, lado a lado.

 

         E foi assim, lado a lado, que ao longo de muitos anos fomos crescendo, aprendendo tudo o que havia para aprender e tornando-nos um orgulho para aqueles que seriam, dali em diante, a nossa família. É impressionante perceber que as nossas vitórias ao longo desta jornada, eram também a vitória de todos e sentiam um grande orgulho na nossa evolução.

 

mãos dadas.jpg

 

 

         Foi uma evolução lenta, até porque a nossa química não era nada de extraordinário, mas todos compreendiam que fazia parte, era normal da juventude, lembravam-se que também eles tinham passado pelo mesmo.

         Devo admitir que nos primeiros tempos estava relutante e duvidava que viesse a dar certo. Não sei se por ser Inverno e estarmos demasiado nervosos, mas os primeiros “treinos” foram, como agora compreendo, uma vergonha para ambos. Parecíamos robôs aleijados, cada um preocupado mais consigo mesmo do que com o seu par.

         Mas o tempo e a aprendizagem deram os seus frutos. Os dois corpos pareciam agora um só, com movimentos de ancas bem coordenados, umas vezes perto outras vezes afastados.

         Óbvio que tínhamos atenção a todos os pormenores e tomávamos todas as precauções, afinal éramos jovens, por isso era importante não esquecer de enfiar o barrete para evitar problemas de maior. O tempo ia passando e a química ia inevitavelmente aparecendo e na mesma proporção da alegria da família em redor dos seus jovens.

         Chegava o Verão e com o brilhar do sol todos saiam à rua para se divertir e festejar a harmonia familiar. Lembro-me, por exemplo, que todos na família faziam questão de se vestir a rigor para as festas da, naquela altura ainda considerada, vila.

         Estava feliz. É o típico caso: “Era feliz e não sabia!”. A monotonia da felicidade (se é que isso existe) deu cabo de mim e sentia necessidade de mudar, que havia algo ali que já não fazia sentido para mim. Foi um erro, eu sei. Reconheço aqui, e perante todos, que a culpa foi minha pelo apagar da chama e que deitei tudo a perder sem pensar nas consequências dos meus actos e em como isso iria afectar todos a minha volta.

         Andei muito tempo ressentido com tudo e com todos, como se a culpa fosse deles e não minha. Demorei anos até me conseguir perdoar e encerrar esse capítulo da minha vida. Actualmente é um assunto resolvido, com o qual já me sinto em paz, e do qual não sinto, como sentia naqueles anos negros, raiva e vergonha de falar.

         Realmente com a idade ou maturidade, aprendi que o tempo passa e vai curando as nossas feridas. É por isso que hoje posso dizer isto:

         É verdade sim, às vezes tenho saudades do tempo que passei no rancho folclórico até aos meus onze anos.

 

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"É assim que se enfia o barrete" — dizia a minha avó
Um puto naquela idade sabe lá...

 

    

 

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