Olá a todos, bom fim-de-semana e voltamos hoje com mais uma opinião, desta vez sobre um livro pesado de se ler, narrado por uma mãe que perdeu a sua filha, que se suicidou com 13 anos, a jovem Marion.
Confesso que tenho uma reacção um bocado ambígua em relação a esta mãe. Por um lado, não sei como é que consegue escrever um livro e tirar proveito financeiro após o suicídio da filha, mas por outro lado consigo perceber que alguém tem que se forte o suficiente para abordar estes temas, para alertar todos para as questões relacionadas com o bullying que infelizmente levam a tantos suicídios começando por alertar os pais, passando pelas próprias crianças, até chegar às escolas, professores e políticos.
Li este livro o ano passado e é estranho como é que em certas alturas o mesmo tema está sempre a aparecer à nossa volta, como se nos caísse no colo. Comecei com este livro, depois tivemos as perdas de Chris Cornell e Chester Bennington e depois caiu-me ao colo a série “13 Reasons Why” da Netflix.
Foram meses em que o bullying e os suicídios estavam sempre ali e tivesse eu ainda preso numa onda depressiva (que acho que todos nós temos numa certa altura das nossas vidas) e não sei dizer quais seriam as consequências e como tudo isto me iria afectar. Assim, e nesta altura, é óbvio que fico sempre incomodado e triste porque, independentemente de acreditarmos ou não noutra vida “no além”, igual à que vivemos aqui (e que deve ser mesmo para viver) só existe mesmo esta. Se há algum conselho que possa dar é que o primeiro passo para sair do fundo do poço tem que ser vosso! Os verdadeiros amigos e as circunstâncias rapidamente tratarão de ajudar no resto.
Voltando à história narrada pela mãe de Marion percebemos a facilidade com que os filhos se tornam uns perfeitos estranhos para os pais, embora sejam pais presentes e preocupados com o dia-a-dia das suas crianças. Marion, no espaço de poucos meses, mudou bastante sem que ninguém se apercebesse, e se houve alguém que se apercebeu também não se mostrou muito preocupado com ela e não fosse Marion deixar uma carta a identificar as suas razões e provavelmente pensariam que se tinha suicidado para acabar com a dor do fim de um namoro na adolescência.
“Para o 8.ºC e todos os outros. Se receberem esta carta, é porque já não estou neste mundo.”
A mãe culpa-se muito por não ter percebido os sinais, mas todos sabemos que não podemos meter os filhos numa redoma e controlar tudo à sua volta. Nota-se a falta de apoio da escola, que em vez de tentar perceber como ajudar e como poderá prevenir que tragédias destas se repitam, adopta a lei da rolha e dá indicações para que ninguém se aproxime da família enlutada.
“Mas vim a saber, meses mais tarde, que enviara um email a toda a equipa pedagógica logo na noite de quarta-feira 13 de fevereiro, o dia em que faleceste, a informar os elementos da equipa do que acontecera e a fazer a seguinte recomendação: «Agradeço que não entrem em contacto com a família.» Terá escrito este email antes do meu telefonema, antes de qualquer reação pública. E só muito mais tarde descobri esse documento. Já se vê porque não me senti apoiada nem reconfortada pela escola. A compaixão não fazia parte do programa.”
É uma história muito triste, mas não deixa de ser muito boa, para compreendermos como é que estas crianças se sentem e para estarmos alerta. Todos vamos aprendendo a lidar com os nossos sentimentos ao longo do tempo, mas estas gerações de smartphones, Facebook e afins deixa para os ecrãs a vida que deveria viver fora deles. Tanto o amor como o ódio são muito mais facilmente propagados nas redes sociais, mas nunca são tão verdadeiros como as brigas e afectos que vivemos no mundo “real”.
É um livro que recomendo porque acho que estes exemplos de sofrimento têm que ser aprendidos para que no futuro se evitem mais casos como o da, para sempre, pequena Marion. Obrigado por lerem e sejam felizes.