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Carola Ponto e Vírgula

Carola Ponto e Vírgula

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Olá pessoal, aqui estamos para mais uma opinião de um livro do Net Book Club. O clube literário que “a mulher que ama livros” criou, sofreu algumas alterações nas “regras” para a escolha do livro do mês. Agora é-nos dado a escolher no stories do instagram do clube, entre dois autores de países diferentes. No primeiro mês o país vencedor foi Itália com o livro “acabadora” de Michaela Murgia. Infelizmente quando fui para o comprar já estava esgotado e por isso não consegui participar. Este mês, assim que a escolha foi feita, tratei logo do assunto e comprei-o numa das minhas visitas à Feira do Livro de Lisboa.

Assim, o país vencedor deste mês foi a Polónia com “Viagens” da autora Olga Tokarczuk, edição em Portugal pela Cavalo de Ferro, chancela 20|20 editora.

Devo de confessar que quando li a sinopse, fiquei curioso com a ideia do livro: falar sobre viagens, viajantes, relatos ao longo do tempo. Não é preciso mais que isto para eu ficar com as “antenas no ar”.

 

“Debruçada no topo do dique, fitando a corrente, dei-me conta de que, apesar de todos os perigos, tudo o que está em movimento é sempre melhor do que aquilo que está em repouso, que a mudança é mais nobre que a estabilidade, que tudo o que estagna acabará por sofrer decomposição, degeneração e transformar-se-á em pó, enquanto aquilo que está em movimento consegue durar eternamente.”

 

 

 

 

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Olá a todos, hoje é dia de voltar a falar de mais uma leitura. Esta foi a primeira leitura de Junho e um dos livros mais recentes na minha estante. Tem sido um dos livros mais falados nos blogues e Instagrams literários: “Demência” de Célia Correia Loureiro, editado pela Coolbooks.

Uma das razões que me fez comprar este livro (além das reviews bastante positivas) foi tratar-se de um tema bastante actual e que ganha cada vez mais preponderância na sociedade e eu fico sempre muito curioso por saber mais sobre a forma como esta realidade interfere na vida do próprio doente e de toda a família ao seu redor.

No caso da nossa história temos Letícia e Olímpia, a primeira foi vítima de violência doméstica por parte do filho da segunda, filho esse que foi morto por Letícia, um crime pelo qual foi ilibada. No entanto e com os primeiros sinais da doença de Olímpia, Letícia vê-se obrigada a regressar e a prestar assistência à sogra.

 

“Bastou aquele gemido da velha para que os três tivessem uma confirmação. Esperavam que dissesse que torcera um pé e que, por isso, não se podia deslocar até aos currais. Mas a vizinha limitava-se a não compreender que a causa da morte dos animais era a sua ausência.

— Há mais de uma semana que não vai ao curral, dona Olímpia. Não a temos visto por lá e os animais vão morrendo à fome.

— Que animais é que morreram à fome? Então eu não vou lá todos os dias? Já lá fui hoje e daqui a nada já lá vou de novo. – Olímpia expressava-se como se a injuriassem.

— Agora que caiu a noite é que lá ia, para partir um pé e ficar um mês de cama? – sibilou Zé, sem que Salomé o chamasse à razão.

De súbito, também ela pareceu impaciente, vindo-lhe à ideia a roupa que deixara estendida.

Olímpia prosseguia, irritada:

— Eu vou lá quando eu quiser, os animais são meus. Não tenho marido nem pai que me dêem ordens.

Salomé acenou ao marido. Não valia a pena, estavam a enervar a pobre mulher.

— Quer que vá consigo amanhã ao curral, para a ajudar?

— Eu não preciso de ajuda nenhuma, nunca precisei. — Pondo-se de pé, a idosa pegou na toalha e nos utensílios para bordar e voltou-lhe as costas.

Ao fechar a porta atrás de si, ainda a ouviram tartamudear:

— Agora querem ver que estou maluca?”

 

 

 

 

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Olá a todos, sejam bem-vindos. Então já forma à Feira do Livro de Lisboa?! Como estão essas compras?! Eu claramente estou a lutar pela vida neste aspecto, os ataques que tenho recebido no porta-aviões que é a minha carteira, em duas visitas à Feira, são duma robustez que até mete medo, mas o que se há de fazer com tantos livros a sorrirem assim para mim?! Eu tento, mas assim, não há Titanic que resista!

Bem, vamos lá então ao que interessa e ao livro de hoje. Já tinha lido muitas opiniões sobre este livro, sempre bastante positivas e sendo descrito como um grande livro. Realmente confirma-se, mas vamos lá com calma.

Temos então como última leitura do mês de Maio, “Se esta rua falasse” (título original: If Beale Street Could Talk), de James Baldwin, editado em Portugal pela Alfaguarda. Dizer que este livro foi editado originalmente em 1974 e que conta com uma adaptação ao cinema (em Portugal estreou em Fevereiro de 2019).

 

“Ainda que as pessoas quisessem fazer alguma coisa, o que poderiam elas fazer? Não posso dizer a ninguém neste autocarro: Olhe, o Fonny está metido em sarilhos, foi preso — já imaginaram o que me diria qualquer passageiro deste autocarro se soubesse, ouvido da minha boca, que amo alguém que está preso? —, e eu sei que ele nunca cometeu um crime e que é uma excelente pessoa, por favor, ajude-me a tirá-lo dali para fora. Já imaginaram o que diria qualquer passageiro deste autocarro? O que diriam vocês? Não posso dizer: Vou ter este bebé e também estou assustada, e não quero que aconteça alguma coisa ao pai do meu bebé, não o deixem morrer na prisão, por favor, oh, por favor! Não se pode dizer uma coisa destas. Ou seja, não se pode dizer nada. Ter um problema significa ficar sozinho. Sentamo-nos e olhamos pela janela, a pensar se ficaremos o resto da vida a ir e a vir neste autocarro. E, se for esse o caso, o que acontecerá ao bebé? O que acontecerá ao Fonny?”