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Carola Ponto e Vírgula

Carola Ponto e Vírgula

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         Meus caros leitores, hoje chega mais uma sexta-feira e com ela mais uma opinião sobre um livro. O livro que vos trago hoje, foi o livro que li nesta pausa para férias (sim eu tenho direito a férias!) e para o qual partia com uma expectativa elevada.

Nem podia ser de outra forma, já que depois de ler “O Homem em Busca de um Sentido” de Viktor E. Frankl (análise aqui) e ficar impressionado por tudo aquilo que este senhor suportou para sobreviver, decidi lançar-me a este “A Falta de Sentido na Vida”.

 

Este livro foi publicado pela primeira vez em 1977, embora esta 1ª edição date de 2017, chega bem a tempo mantendo-se bastante actual e aborda a grande problemática neurótica desta época. Se no tempo de Sigmund Freud era a frustração sexual a razão de tantas neuroses, hoje a frustração é muito mais existencial, ainda que também não seja igual ao sentimento de inferioridade existente no tempo de Alfred Adler. Hoje muito do que provoca o mal-estar e insatisfação da população é um sentimento de falta de sentido, ou como diz na obra, um vácuo existencial.

“Quando sou questionado sobre como explico o aparecimento deste vácuo existencial, costumo apresentar a seguinte fórmula: ao contrário do que acontece com o animal, não há nenhum instinto que diga ao homem o que este tem de fazer, e ao contrário do homem do passado, já não há tradições que digam ao homem de hoje o que este deve fazer. Ora, não sabendo o que tem de fazer nem sabendo o que deve fazer, parece muitas vezes já não saber muito bem o que no fundo quer. Assim, quer apenas o que os outros fazem, o que conduz ao conformismo! Ou então, faz apenas o que os outros querem — isto é, querem dele, que por sua vez leva ao totalitarismo.”

Sendo Frankl o mestre da Logoterapia ele vai abordando várias técnicas, vários estudos baseados na sua teoria, e ainda assim perde tempo também a explicar a razão pela qual técnicas de, por exemplo, Freud e Adler não tem grande taxa de sucesso nos dias de hoje em comparação com a sua Logoterapia. A razão é simples a sociedade evoluiu e com ela as frustrações das épocas de Freud e Adler acabaram por diminuir, tornando a disciplina de Frankl a mais actual.

Achei este livro demasiado técnico e de difícil compreensão de todos os nomes de processos e de técnicas que foram usadas pelos vários psicoterapeutas mencionados ao longo da obra. Um dos grandes problemas eram as notas de rodapé excessivas, não deixando de ser irónico que por vezes frases inteiras como “Nothing has really changed in 14 years. Every day of those years was hell” (Nada mudou realmente em 14 anos. Todos os dias desses anos foram um inferno — tradução à moda do autor deste blogue) não obtivessem uma nota de tradução. A culpa aqui, obviamente, será de todos menos do autor!

“Se acreditarmos em Staley Krippner, então o sentimento de falta de sentido está na base de 100 por cento dos casos de toxicodependência. Em 100 por cento dos casos de toxicodependência, a resposta à pergunta se não lhes parecia tudo sem sentido foi positiva.”

Do pouco que consegui aprender para aplicar no dia-a-dia foi a forma como uma das técnicas usadas a “intenção paradoxal” funciona e deixo-vos com um dos exemplos dados pelo autor que consistia numa pessoa que tinha como fobia o facto de suar muito em público, ora segundo esta técnica ele iria a partir dali andar sempre a publicitar que transpirava imenso e que olhassem para a forma como ele parecia uma torneira. O que é que aconteceu? Sempre que aplicava essa técnica a sua pele ficava seca!

“Quer queira quer não, quer admita quer não — o homem acredita num sentido enquanto está vivo. Também o suicida acredita num sentido, ainda que não seja de vida, de continuar a viver, mas no da morte. Se acaso já não acreditasse realente em nenhum sentido, então não mexeria sequer um dedo, portanto, não cometeria o suicídio.”

Também achei muito interessante numa temática que abordava a forma como se deve abordar aqueles doentes incuráveis e como é importante dar um sentido para aquele sofrimento. Mais do que o sofrimento ou o prazer, o autor defende que o que realmente importa é que a vida seja carregada de sentido. No entanto no sentido desta obra na minha vida não posso deixar de me sentir desiludido pelo seu excesso de termos técnicos que tornaram a leitura enfadonha.