Olá estreamos hoje aqui no blogue “A Vida dum Carola”. Bem-vindos, sintam-se a vontade, é como se tivessem em casa.
A minha vida até agora foi cheia de peripécias e de relacionamentos estranhos. Comecemos logo no dia do meu nascimento e com a minha mãe como protagonista.
Corria o ano de 1987, mais precisamente no dia 29 de Maio. A minha mãe, desgraçada, já carregava aqui o je há nove meses e nesse dia fomos para a maternidade (eu muito contra minha vontade. Sei lá, já estava a prever qualquer coisa).
Chegados lá, e segundo relatos que recolhi, a minha mãe disse:
— Senhor doutor já não aguento mais isto (por “isto” entenda-se: eu), ajude-me que isto (eu novamente) de hoje não passa!
E não passou. Quer dizer eu passei, não sei ao certo por onde, mas passei. O dia é que ainda não tinha passado quando eu passei. Nota-se que a minha mãe é extremamente focada nos seus objectivos. Nasci a 29 de Maio de 1987 eram 23h55 (esta hora dava um belo nome dum talk-show de humor, RTP pensem nisso).
Parecendo que não, isto é um transtorno enorme e nisso não pensou a dona Tilinha (não me perguntem como é que chegamos a este diminutivo quando a minha mãe se chama Clotilde). Imaginemos que eu levava à letra a hora do meu nascimento: todos os anos festejava o meu aniversário durante cinco minutos e puf… acabou-se que já é dia 30 meu menino! Mãe, obrigadinho…
Depois espanta-me que esta jovem mãe de dois rapazes, em que o primeiro caso foi um sucesso e ao ver o desastre que se seguiu, não tenha pensado em inscrever o seu nome na história do livro de recordes do Guinness com o único aborto de sucesso aos nove meses. Era a única maneira de ainda ganhar alguma coisa com isto (pela terceira vez: eu).
Desde essa altura que o nosso relacionamento nunca mais foi o mesmo. Tanto que ela decidiu dar-me de presente para a minha avó, e sua mãe, visto que a, já não tão jovem assim, dona Adélia só tinha gerado meninas e assim poderia agora cuidar de um menino.
A minha avó adorou o presente. O futuro a partir daí é que não posso assegurar que tenha gostado. Mas ela esforçou-se muito para me tratar bem e pôs-me a auto-estima lá nos píncaros do Evereste.
Dizia, vezes sem conta, que eu era o neto mais bonito que ela tinha. Aos outros netos: manos e primos não sejam ciumentos, a vida é assim, são gostos (e como os cús — esta comparação faz todo o sentido), cada um tem o seu.
Anos mais tarde, quando eu devia ter uns seis ou sete anos, a minha avó teve que ser operada à vista porque já mal conseguia ver cores e sombras. Foi aí que eu percebi que fui o neto-sombra mais bonito que ela vira.
Após a operação o discurso mudou ligeiramente, dizia ela:
— Ó filho o que interessa é ter saúde!
Claro que sim avozinha do meu coração! Agora sempre que me vê pergunta:
— Então filho já conseguiste enganar alguém?!
— Com esta cara?! E sem o recorde do Guinness como publicidade?! Assim não dá, não há milagres! — Respondo eu.
— A tua mãe realmente… Olha filho o que interessa é ter saúde!