Estávamos no final do ano de 2014 e lá estava eu em casa com uma febre danada e a pensar que precisava de alguma coisa nova na minha vida, e quase no mesmo instante dá-me uma dor forte no coração. E agora lá vêm os génios da sabedoria popular: “ah e tal o coração não dói!”. Claro que dói, até porque eu nem sabia que tinha um até ele me começar a doer.
Pelo sim pelo não, e como eu sou muito sensível a dores de coisas que não conheço, decidi chamar os bombeiros para me levarem ao hospital! Já na ambulância quem me assistiu disse para quem ia a conduzir: “está tudo bem!”. Por coincidência a ambulância começou logo a acelerar como se não houvesse amanhã. Como as coisas mudam… se fosse hoje já tinham que ter cuidado para não levarem uma multa de excesso de velocidade por, incompreensivelmente, estarem a socorrer alguém.
Vai devagar, olha a multa!
Chegado ao hospital, análises, electrocardiograma, soro:
“Está tudo bem!”, disse quem me atendeu enquanto me tirava o soro. “Toma os exames, espera aqui um pouco que já volto”.
E eu esperei… esperei… até que um enfermeiro caridoso, mas que não tinha nada a ver com aquilo disse:
“Ainda aqui estás?! Já te deram alta, podes ir para casa”.
“Ah pronto é que se ninguém me avisar eu fico aqui a dormir!”, pensei eu. (este meu cérebro deve ter algum poder de adivinhação).
Sempre pensei que o "H" fosse de Hotel...
Avisei o meu irmão que ia ter alta e pus-me ao caminho de tal forma que cheguei primeiro ao carro que ele, que ainda estava na sala de espera, obviamente, à espera que eu aparecesse por ali. Decidiu ir à bomba de gasolina abastecer e foi lá que o meu telemóvel toca:
“Olhe tem que voltar para o Hospital”, disse a voz do outro lado.
“Mas esqueci-me aí de alguma coisa?!”, disse eu.
“Esqueceu-se… Não disse que ficava cá a dormir, então… já tratámos da sua cama e tudo!”, diriam eles se fossem honestos.
“Ah é que vimos aqui uns níveis altos e tem que ficar internado!”, disse o interlocutor que me ligou
Chegado lá… pela segunda vez, reencaminham-me outra vez para as urgências e dizem:
“Está aqui este pijama, vista-o, ponha a roupa, os documentos, o telemóvel, chaves neste saco”. Fiquei na dúvida se ia ficar internado ou se tinha sido preso.
Primeira noite, tudo certo, não fosse ter umas dez pessoas ali comigo, e uma delas a ressonar que nem um tambor ao meu lado. E talvez também fosse um pouco incómodo ter uma máquina ligada a mim a registar os batimentos da minha máquina.
A partir do segundo dia, já tive direito a um quarto partilhado só com uma pessoa, neste caso, um velhote calmo e calado que me fez pensar:
“Pronto com um vizinho destes estou descansado, ao menos não me calhou um daqueles velhos que não se cala e chato” (esta minha cabeça pensa com cada disparate…)
Quase como por magia o homem parecia ter ficado possuído, só dizia que ia embora, começou a andar, dois passos e chão com ele. Isto repetia-se de dez em dez minutos. Já não via um ninguém se mandar assim tanto para o chão desde que o João Pinto se retirou do futebol! Da primeira vez ainda o levantei, eu ligado ao soro, quando olhei para o soro já tinha sangue no soro em vez de soro no sangue. E ainda levei um raspanete das enfermeiras:
“Toque na campainha que nós aparecemos logo”.
Nem quando era puto e fugia a correr, toquei tanta vez à campainha. Era o João Pinto idoso de novo no meio do chão! Foi uma semana bem passada, digamos.
Legenda: O joão pinto é o velho.
O Paulinho Santos é a gravidade a arrear no velho!
Ah e falta falar do mais importante: diagnosticaram-me uma coisa ligeira chamada Miopericardite Viral que segundo a doutora que me fez a tradução para língua de gente significa que um vírus se alojou numa membrana do coração (não, não me apaixonei!) que fez com que ela dilatasse.
Portanto nada de grave, tanto é que a médica que vai ao meu trabalho fazer os exames aos empregados, quando lhe digo o que tive (e digo-lhe todos os anos), ela faz questão de contar sempre a mesma história:
“Sabe tive um colega que perdeu o filho, de quatro anos, com isso! Só que no caso dele não era viral”.
Obrigadinho senhora doutora fico tão contente por saber que uma criança morreu com um problema idêntico ao meu… Mais valia ter dito: “Porque é que não foste tu a quinar, gordo do cacete, em vez daquela pobre criança”. Mais uma vez, obrigadinho!