Estávamos no final do ano de 2006, já a cheirar a Natal, quando decidem que eu tinha exame de condução. Eu como sou a pessoa mais confiante nas minhas fracas capacidades, enchi-me de força e pensei: “F***-** já me estragaram a m**** do Natal!” — sim, tenho a certeza (50% vá) que foi exactamente isto que disse!
Claramente eu sabia que tinha sido convenientemente preparado em todas as aulas, tinha tanta certeza, quanto as vezes que tinha ouvido do instrutor: “tira o pé da embraiagem!”, para eu responder: “Se alguém tem, não sou eu…” e de lá vinha um: “Desculpa era eu…”. Só aí se vê a confiança (ou medo) que o meu instrutor tinha em mim. E ainda assim, o velho do cacete não achou melhor altura para ir a exame que perto do Natal!
Foi um primo deste que sofreu muito naquele dia!
E pronto lá fomos nós para o Barreiro passear… e fazer o reconhecimento dos possíveis percursos! Coincidência foi ninguém passar por nenhum desses percursos “reconhecidos”, velho dum raio! Nesse reconhecimento matinal correu tudo bem, exceptuando quando o maior Ás ao volante, eu, ia na sua vez. Não foi nada de grave, foi só um residente que achou por bem sair da sua garagem sem ver se lá vinha alguém a circular na estrada! Como eu já ia confiante, depois daquilo fiquei muito mais descansado. Estranho foi a partir daquele momento parecer o Rei do Kuduro de tanto que as minhas pernas tremiam.
Isto é era eu no dia do exame... só que sem música!
Por fim chegou o momento da verdade e como tudo corria a meu favor o meu colega de exame foi o primeiro. Era um daqueles rapazes que ia lá só buscar o certificado, pois pela forma como conduzia, já devia andar ao volante desde a primária. O exame dele chegou ao fim e passámos ao main-event do dia.
Cada vez mais confiante na minha capacidade de vir a ser o maior dançarino de Kuduro do Mundo, tal era a cadência das minhas pernas, lá fui fazer o meu exame de condução.
Ora então: banco, cinto de segurança, espelhos, luzes, manete das mudanças, acelerador, travão, embraiagem, piscas, olha o que é isto?! Volante?! Para que servirá?! Mas vamos a isto!
E lá fomos e tudo corria bem até que o examinador me diz:
“Essas curvas à direita estão um bocado largas!”
Tratei logo de corrigir o meu erro e à primeira curva à direita que se seguiu… rocei logo num lancil, para ouvir, um sempre animador:
“Você não viu o passeio?!”
Resposta: caladinho que nem um rato, parte 1.
Seguimos caminho e chegou a hora do estacionamento em “L”. Para surpresa geral, o estacionamento correu bem, mas era preciso endireitar a viatura. Manobra para a frente, manobra para trás, até se ouvir.
“Já chega, não mexa mais senão estraga… siga!”
Resposta: caladinho que nem um rato, parte 2.
Ele mandou e eu segui, até que:
“Vira na próxima à esquerda…”
“Naquela ali à frente?” — perguntei eu por descargo de consciência.
“Não, era aquela ali atrás! Mas deixe estar, vire nessa que disse que vamos lá parar na mesma.”
Resposta: caladinho que… já perceberam, não é?!
Acabado o exame e já a fazer contas ao pagamento do próximo exame, o examinador diz o seguinte (tal e qual isto):
“Para a próxima (era óbvio que haveria pelo menos mais uma tentativa) tentem não estar tão nervosos, por isso estão aprovados os dois, parabéns e Feliz Natal”
Foto meramente ilustrativa como indica aquela unha muito bem tratada!
Resposta: é o quê car****?! Aprovado?! — pensei eu, mas com grande dificuldade em manter o pensamento preso, sem sair pela boca.
Foi já no regresso a casa, e encartado, que percebi o que realmente ele me tinha dito. Passo a traduzir:
“Deus me livre se eu arrisco a minha pele ou a de algum colega meu nas mãos deste perigo! É melhor dar-lhe a carta e ele que vá aprendendo sozinho como não atropelar passeios!”
Por isso eu digo com muito orgulho tive o melhor examinador de condução do Mundo!