Olá a todos sejam mais uma vez bem-vindos. Neste espaço continuamos a dissecar a minha vida Post a Post.
Hoje venho-vos falar do meu avô paterno. O Senhor João Maria Carola era um homem baixinho, muito alegre e sempre de bem com a vida que tinha. É, em grande parte, graças a ele e à minha avó (a Dona Isalinda) que eu e o meu irmão tivemos uma infância muito boa.
E o que é uma infância boa?! Para as crianças dos dias de hoje (e isto faz-me sentir tão velho já) uma infância boa deve ser um Tablet, um Smartphone, um computador e um quarto de porta fechada ao longo de dias inteiros. Na minha altura (chiça, que isto é mesmo conversa de velho) eram tardes a brincar e a espojar-me no chão num quintal ou então a fazer o antepassado daquilo que os miúdos fazem hoje: ver desenhos animados no leitor de cassetes VHS.
Aí, reconheço, tive o luxo de a cerca de dez metros da casa dos meus avós haver um videoclube. Sim um daqueles à antiga, mesmo real, em que escolhíamos o nosso filme entre centenas de cassetes VHS. Sim putos, não dava para sacar na net ou gravar na box da TV.
Eu gostava das Tartarugas Ninja. O meu avô... preferia o Karaté!
Eu tenho a certeza que vi todas as cassetes de desenhos animados (algumas até mais que uma vez) que haviam no clube vídeo do senhor David. Até sabíamos o número de sócio do meu avô de cor: eu, o meu irmão e o próprio… senhor David.
E é aí que entra o meu avô. Muitas vezes me dizia ele:
— Ó Nuno vai ali ao senhor David buscar um filme para vocês verem e trás lá um filme também para o avô.
E o pequeno Nuno lá ia contente da vida escolher mais um filme de bonecada. Depois levantava-se uma questão:
— Boa tarde senhor David. Ó senhor David, o meu avô disse para levar um filme também para ele, só que eu não sei qual é…
— Ó menino — dizia o senhor David — Deixa estar que eu já sei qual é, deixa-me ir à procura dele.
E lá ia o senhor David à procura de um filme naquela estante esquisita em que os filmes não tinham os actores na capa e com títulos como “As vacas lá na quinta”, “Prova oral” e “Ora cabe mais um, que só dois é pouco”.
Depois lá voltava eu a casa para ir ver os meus desenhos animados.
No Karaté visionado também havia cores como nos cinturões da arte marcial!
— Ah meu rico filho, obrigadinho. O avô agora vai ver o filme com a avó (e de porta fechada). Tu e o teu irmão vão para o quintal brincar.
E nós lá íamos para mais uma tarde de sujar e espojar por mais. Eram tardes bem passadas… para todos.