Olá a todos, bom fim-de-semana. Para celebrar (ainda que atrasado) o Dia Internacional da Língua Materna, venho falar de um livro que provavelmente meio mundo já leu, escrito por um autor conhecido em todo o mundo e um dos maiores escritores portugueses, o nosso prémio Nobel da Literatura, José Saramago.
Como já disse várias vezes, eu tenho uma tendência estúpida de fugir dos autores clássicos e no caso de Saramago evitava ler alguma coisa dele, muito pela maneira como todos falavam da sua escrita.
Sendo assim, estreei-me com “Caim”, nome que eu só conhecia pela boca dos cães quando, inadvertidamente, os piso (sim a piada é má, mas estava mesmo a jeito). Consigo perceber agora porque falam da maneira como escrevia, mas eu gostei. É diferente, mas não é difícil de ler e não será por não respeitar todas as regras que deve ser criticado, talvez até deva ser elogiado por isso mesmo.
Então em “Caim” e como o próprio nome indica, temos a história de Caim, filho de Adão e Eva, e que ao longo do livro vamos acompanhando a sua vida, entrando numa disputa com o próprio Deus, de quem ele não é propriamente adepto. Confesso que sou completamente ignorante em relação ao conteúdo escrito na Bíblia e todas as suas histórias, por isso não sei as semelhanças e diferenças na vida de Caim na Bíblia e neste livro.
“Tirando o facto de serem filhos do senhor, obra directamente saída das suas divinas mãos, circunstância esta que ninguém ali estava em condições de conhecer, não se notavam especiais diferenças fisionómicas entre eles e os seus providenciais hospedeiros, dir-se-ia até que pertenciam todos à mesma raça, cabelos pretos, pele morena, olhos escuros, sobrancelhas acentuadas. Quando abel nascer, todos os vizinhos irão estranhar a rosada brancura com que veio ao mundo, como se fosse filho de um anjo, ou de um arcanjo, ou de um querubim, salvo seja.”
Sei sim, que consegui perceber o génio na escrita de José Saramago. Para poder ter a certeza disto, sei que ainda preciso de ler mais obras dele e fiquei com curiosidade de ler mais livros de Saramago. Valeu muito a pena ler este livro, tanto pela escrita como pela história, acho que deu para perceber que José Saramago se encontra num patamar diferente da maioria, até porque o Nobel da Literatura é disso prova.
“Desde a mais tenra infância caim e abel haviam sido os melhores amigos, a um ponto tal que nem irmãos pareciam, aonde ia um, o outro ia também, e tudo faziam de comum acordo.”
Adorei o humor de Saramago, a forma como o usa para ir dando umas “alfinetadas” nas incoerências da religião e Deus. Gostei também da maneira “mágica” como a vida de Caim se vai desenrolando em vários patamares e em tempos diferentes. O livro não é muito grande, mas achei-o muito bom e sem necessidade de ser maior. Fiquei fã e espero voltar a ler mais livros dele (por isso, família e amigos, eu faço anos em Maio, estão à vontade para me oferecer mais livros do nosso Nobel da Literatura).
“Deixemo-nos de rodeios e de meias palavras, disse, tens de pôr imediatamente mãos à obra, a partir de hoje é quando quiseres e como quiseres, a mim estas preocupações matam-me, não posso ser de grande ajuda por enquanto, Quando quiser e como quiser, que significa isso, perguntou caim, Sim, e com quem quiseres, respondeu noé, exibindo a sua melhor cara de entendido, Incluindo a tua mulher, quis saber caim, Insisto que o faças, a mulher é minha, posso fazer com ela o que me apetecer, Tanto mais que se trata de uma boa obra, insinuou caim, Uma obra pia, uma obra do senhor, assentiu noé com a solenidade apropriada, Sendo assim, comecemos já, disse caim, manda-a ter comigo ao cubículo onde durmo e que ninguém nos venha incomodar, aconteça o acontecer e ouça-se o que se ouvir, Assim farei, e que se cumpra a vontade do senhor, Amém.”
Eu sei que a pergunta é escusada (até porque eu devia ser o único que ainda não tinha lido Saramago), mas cá vai: e vocês já leram algum livro de José Saramago?! Qual é o melhor na vossa opinião?! O que acham da escrita?!
Espero que gostem e aguardo pelos vossos comentários. Obrigado pelo apoio e até a próxima.
“Há uns três dias, não mais tarde, tinha ele dito a abraão, pai do rapazito, que carrega às costas o molho de lenha, Leva contigo o teu único filho, isaac, a quem tanto queres, vai à região do monte mória e oferece-o em sacrifício a mim sobre um dos montes que eu te indicar. O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim.”
“Não levantes a mão contra o menino, não lhe faças nenhum mal, pois já vejo que és obediente ao senhor, disposto, por amor dele, a não poupar nem sequer o teu filho único, Chegas tarde, disse caim, se isaac não está morto foi porque eu o impedi. O anjo fez cara de contradição, Sinto muito ter chegado atrasado, mas a culpa não foi minha, quando vinha para cá surgiu-me um problema mecânico na asa direita, não sincronizava com a esquerda, o resultado foram contínuas mudanças de rumo que me desorientavam, na verdade vi-me em papos-de-aranha para chegar aqui, ainda por cima não me tinham explicado bem qual destes montes era o lugar do sacrifício, se cá cheguei, foi por um milagre do senhor, Tarde, disse caim,”