De: Mim
Para: Redes Sociais
Data: Segundo uma notificação, foi num dia destes
Queridas Redes Sociais, eu sei que não é justo estar a englobá-las todas “no mesmo saco”, mas queria aqui discorrer sobre uns assuntos com vocês e individualmente a tarefa seria impossível e muito repetitiva.
Em primeiro lugar sou vosso fã, já deixei like e tudo!
Gosto muito da forma como a vossa existência tornou o Mundo mais pequeno, permitindo encurtar distâncias e matar saudades daqueles que vivem longe. Os nossos amigos estão todos ali “à mão de semear” para uma conversa, para partilhar aquilo que estamos a fazer ao longo dos nossos dias seja através de fotos ou vídeos.
Ao princípio cada uma de vocês tinha uma especialidade que a tornava diferente e até exclusiva em relação às outras. Agora embora mantenham aquilo que vos tornou especiais, já procuram agregar cópias daquilo que as outras fazem de bom.
Adoro como se tornou fácil, e à distância de um clique e meio, já estou a seguir e a comentar nas páginas oficiais dos meus ídolos ao lado de muitos dos seus fãs! E por vezes o nosso ídolo ainda perde tempo a interagir connosco. É fantástico!
Torna-se difícil voltar à vida “real” quando nos perdemos em vocês durante horas a fio enquanto bisbilhotamos perfis de amigos/as, dos namorados/as, de desconhecidos ou de conhecidos a quem nunca falámos. Realmente, às vezes, as pessoas fazem a rede parecer socio(al)pata. O FBI já devia recrutar alguns destes “detectives de perfis” para os seus quadros. Com isso, se calhar, já tinham descoberto onde é que está alguma qualidade do Trump.
Vocês também provocaram alguma inversão no significado de algumas palavras. Viral, por exemplo, só numa rede social é que é algo positivo. Até o próprio termo “social” já esteva mais social.
Vocês provocaram grandes mudanças nas vidas de quase todos nós. Graças ao vosso aparecimento até surgiram novas profissões. Youtuber, gestor de redes sociais, filósofos de facebook, hashtaggers profissionais, partilhadores (e até partilha-dores) industriais, entre muitas outras.
Até aqui a maioria é positivo, mas é preciso falarmos agora daquilo que vocês parecem não saber controlar. Porque sim, e embora sejam redes sociais, isso não é sinónimo de liberdade sem regras.
Em vocês todas as notícias são polémicas, tragédias e o fim do Mundo. E no fim de contas, a maioria delas é falsa e em busca de cliques. Aí, verdade seja dita, o objectivo foi bem-sucedido.
Depois temos aquela coisa viral, e esta é mesmo má, chamada “Publicidade em tudo o que mexe”: É na barra lateral, é entre posts de amigos no feed e o pior de todos, no meio dos vídeos! Já só vos falta investir nos jogos com chamadas para os 760.
Imaginemos que isso ocorria na vida real (aquela que acontece fora de vocês). Estou eu e os meus amigos num bar:
— Vocês viram o filme que deu hoje na TV?! Era o Titanic, já o vi montes de vezes e para mim a melhor parte… — e lá vinha um estranho interromper a conversa para fins publicitários: “Está pelos cabelos com essa caspa?! Use o nosso champô, recomendado por noventa por cento das pessoas”, e depois lá voltava eu à conversa como se nada se passasse— … é a parte em que eles fazem uma competição de cuspidelas. Pensaram que era aquela parte dele a desenhá-la?! Mas eu sou algum tarado?! Vou já fazer um post indignadíssimo, depois não se esqueçam de ir lá fazer like!
Não faz sentido, pois não?! Se enquanto eu socializo na realidade não faz sentido, porque raio em vocês (lembro redes SOCIAIS), faz?!
Melhorem lá isso, senão daqui a uns tempos é provável que nasça outra rede social que se lembre de não ter essa publicidade e depois lá vão vocês todas copiar isso.
Sejam, verdadeiramente, mais sociais, não como a segurança social, que nem me dá segurança, nem é social, e ainda me leva o graveto. Acho que a isso se chama ladrão, banqueiro ou imposto.
Eu gosto de vocês e já agora, façam like, partilhem e sigam-me nas minhas redes sociais!