Olá a todos, como estão esses preparativos para a Páscoa?! Eu já estou em estágio para entrar em modo “amêndoas, ovos e outros doces”, tanto é que há 5 minutos que não como nada! Mas isso não tem nada a ver com o que vamos falar agora.
Hoje é dia de falar do livro escolhido para o Net Book Club do mês de Abril: “Dez Anos Depois” de Liane Moriarty editado pela Editorial Presença. A criadora deste projecto decidiu (sempre pedindo a nossa ajuda, claro) refrescar este clube literário a partir do próximo mês de Maio. Agora além de escolhermos o livro do mês ainda partiremos numa viagem literária pelos quatro cantos deste Mundo redondo!
Vamos lá então falar deste “Dez Anos Depois” que tem como título original “What Alice Forgot”. É só a mim que esta discrepância entre título original e título traduzido (não só neste caso) faz uma confusão enorme?! Mas que todo o mal fosse esse…
Temos então a nossa personagem principal, Alice, que depois de uma queda no ginásio perde a memória dos últimos dez anos. Ora isto não seria um problema tão grave não fosse o caso de a vida dela estar totalmente diferente do ano 1998 em que julgava estar quando recuperou os sentidos após a queda. Nesse ano estava grávida da sua primeira filha e muito apaixonada pelo marido. Em 2008 estava à beira do divórcio e era mãe de três crianças.
“— Faça-me a vontade, Alice, e diga-me o nome do nosso ilustre primeiro-ministro — pediu George.
— John Howard — respondeu obedientemente. Esperava que não houvesse mais perguntas sobre política. Não era o seu forte. Nunca deixava de ficar suficientemente aterrorizada.
Jane emitiu um som estranho de escárnio e alegria.
— Oh. Ah. Mas ele ainda é o primeiro-ministro, não é? — Alice estava mortificada. As pessoas iam gozá-la por causa aquilo nos próximos anos. Oh, Alice, não sabes quem é o primeiro-ministro! E se ela tivesse perdido a eleição? — Mas eu tenho a certeza que ele é o primeiro-ministro.
— E em que ano estamos? — George não pareceu muito preocupado.
— Mil novecentos e noventa e oito — respondeu Alice prontamente. Sentia-se confiante a respeito daquilo. O bebé nasceria no ano seguinte, em 1999.
Jane tapou a boca com a mão. George ia para falar, mas Jane interrompeu-o. Ela pousou uma mão no ombro de Alice e olhou para ela atentamente. Os olhos estavam arregalados de excitação. Pequenas bolas de rímel pairavam sobre as extremidades das pestanas. A combinação de desodorizante de alfazema com o hálito a alho era bastante avassaladora.
— Quantos anos tens, Alice?
— Tenho vinte e nove anos, Jane — Alice estava irritada com o tom dramático de Jane. Onde queria ela chegar? — A mesma idade que tu.
Jane endireitou-se e olhou para George Clooney triunfante.
— Acabei de receber um convite para o quadragésimo aniversário dela — disse.
Aquele foi o dia em que Alice Mary Love foi ao ginásio e fez desaparecer por acaso uma década da sua vida.”
Como disse na minha expectativa sobre este livro, eu esperava que este livro me envolvesse na vida desta mulher que se via a braços com uma vida totalmente diferente daquela que agora se lembrava. Para nos ajudar (ou talvez não) vamos tendo ao longo da história relatos por parte de algumas pessoas que acompanham Alice neste momento de amnésia, casos de Bisavó Blogger (será que existem na nossa realidade muitas bloggers da terceira idade?!) e de Elisabeth, irmã de Alice e que vai relatando ao seu psicólogo tudo o que se vai passando.
“— Mãe — disse Elisabeth laconicamente. — A Alice não se lembra sequer da Madison. A última coisa de que se lembra é de estar grávida dela.
— Ela não se lembra da Madison — repetiu Barbara em voz baixa. Respirou fundo e fez uma voz alegre e nervosa como se quisesse alegrar Alice para a ajudar a sair daquela situação disparatada. — Bem, percebo que queiras esquecer a Madison neste momento particular, a pequena resmungona, embora tenha a certeza de que aquilo lhe vai passar em breve, mas é claro que te lembras do Tom e da Olivia, querida, não é? Não posso acreditar que estou esta pergunta. Claro que te lembras. Não podes esquecer os teus próprios filhos! Isso seria… impensável.
Havia um tremor de medo na voz dela que Alice achou estranhamente reconfortante. Sim, mãe, isso é assustador. Sim, isto é impensável.
— Mãe — disse Elisabeth de novo. — Por favor, tenta meter isto na cabeça. Ela não se lembra de nada desde mil novecentos e noventa e oito.
— Nada?
— Tenho a certeza de que é apenas temporário.
— Oh! É claro. Temporário!
A mãe ficou em silêncio e passou uma unha pelo contorno da boca com uma grossa camada de batom.
Alice experimentou este facto novo na sua mente: A minha mãe casou com o pai do meu marido.
Era um facto tão inesquecível como Tive três filhos e O meu marido que eu adoro saiu da nossa casa, mas ela tinha-os de alguma forma esquecido.”
A verdade é que eu estava à espera de uma coisa muito mais distorcida e a história acabou por ser um bocado linear para mim! Sei lá, ela podia entrar numa negação tal que não reconheceria aquelas crianças como seus filhos e ficaria a confusa ao ponto de já nem acreditar sequer nas memórias que ainda tinha. Sei lá, preferia algo neste género, mais extremo e confuso.
Depois, com as informações surpreendentes para Alice que já se encontrava a sair com outro homem e de quem gostava, tornou-se evidente para mim que o livro só podia seguir dois caminhos e é essa previsibilidade que detesto nas histórias. Por isso quando recuperasse a memória, das duas, uma: ou ela se agarrava às memórias antigas e voltava para o ex-marido ou seguia com o novo homem da sua vida. E espantem-se… foi mesmo uma destas duas que aconteceu!
Tal como uma destas relações (que obviamente não vou dizer qual), eu tentei mesmo muito achar este livro bom o suficiente, mas no fim prevaleceu a opinião predominante ao longo da história: não gostei! São 300 páginas (em pouco mais de 400) muito sem sabor, a vaguear entre um presente amnésico, um passado feliz e um futuro incerto, isto tudo num registo muito “sem sal”.
Lamento, mas eu não estou em dieta literária! Preciso de sal, pimenta e todos os outros condimentos que me mantenham ligado à acção, quase como a última centena de páginas conseguiu fazer, mas que já era insuficiente face a toda a desilusão que tinha ficado para trás!
“— Como te sentes? — perguntou Elisabeth. — Como está a tua… memória?
— Nada de novo — respondeu Alice. — Ainda não me lembro de nada a respeito dos miúdos ou do divórcio. Embora tenha percebido que tem algo a ver com a Gina.
Elisabeth olhou para ela com surpresa.
— O que queres dizer?
— Não faz mal, não precisas de me proteger — disse Alice. — Já percebi que ele teve um caso com ela.
— O Nick teve um caso com a Gina?
— Bem, não teve? Toda a gente parece saber disso.
— É novidade para mim. — Elisabeth parecia verdadeiramente chocada.
— Ele deve estar na cama com ela agora — murmurou Alice.
A campainha do micro-ondas soou, mas Elisabeth ignorou-a.
— Duvido muito, Alice — retorquiu a irmã.
— Porquê?
— Porque ela está morta.”
No fim, a única forma em que este livro nos envolve é se aplicarmos a premissa base desta história à nossa vida e pensarmos como é que seria a nossa vida se, de um dia para o outro, se apagassem da nossa memória os últimos dez anos da nossa vida. No meu caso, sinto e sei que na última década estou melhor em vários aspectos (só no aspecto é que estou literalmente na mesma, só que 10 anos mais velho!), desde logo porque em 2009 ainda nem era um leitor (nem os de leitura obrigatória na escola tinha lido) e só de pensar no Nuno Carola dessa época a chegar a casa e vê-la recheada de livros, dava para escrever uma comédia! E vocês como se imaginam a passar por uma situação destas?! Quão diferentes estão Dez Anos Depois?! Gostava muito de saber, comentem, vamos tirar algo positivo deste livro que me desiludiu muito, foram duas estrelas no Goodreads e porque aquela última centena de páginas foi boazinha! Boa Páscoa a todos e até à próxima!