Olá a todos, hoje é dia de iniciar, finalmente, o “José Rodrigues dos Santos Challenge”. Não tem sido fácil conciliar esta minha ideia com outras leituras e clubes literários, mas espero a partir de agora, conseguir ler mais livros e assim ir completando este desafio.
Não sei se já disse (pelo menos nunca mais de uma centena de vezes) foi graças a José Rodrigues dos Santos e ao seu “Mão do Diabo” que toda a minha paixão pela leitura nasceu. Sendo assim este desafio serve para diminuir a minha lista de livros dele que ainda estão por ler.
Comecemos então com este “Sinal de Vida”, edição já habitual da Gradiva. Nesta história voltamos a acompanhar mais uma aventura do nosso Tomás Noronha, que começa exactamente onde terminara “Vaticanum”. Foi uma ligação simples, mas muito inteligente, ainda por cima quando todo o tema desta nova história se foca na vida extraterrestre.
“Percebendo a pergunta, o responsável do Allan Telescope Array bebericou um trago do café que trazia no mug e respirou fundo.
“Ah, eles.”
“Sim, onde estão? O universo é enorme e muito antigo. Mais de treze mil milhões de anos. Ora aqui na Terra a vida precisou de uns três a quatro mil milhões de anos para desenvolver uma inteligência tecnológica. Uns dez mil anos bastaram para os seres humanos chegarem à Lua. A tecnologia está sempre a avançar e o progresso tem uma taxa de crescimento exponencial. Há um século as pessoas ainda usavam o telégrafo, a principal fonte de energia era a lenha e o carvão, e viajava-se a cavalo ou em coches. Agora estamos em rede pela Internet, temos telemóveis com GPS, há cidades com milhões de pessoas iluminadas por energia nuclear e vamos para toda a parte de automóvel ou de avião. Se isto tudo aconteceu num único século, Leo, diga-me como será daqui a um milénio ou um milhão de anos.”
“O céu é o limite.”
“O desenvolvimento será incrível. Ter-nos-emos decerto já espalhado por algumas estrelas. Se ainda existir, daqui a um milhão de anos a humanidade será irreconhecível.”
“Isso é garantido. E então?”
“Pense na dimensão do universo, Leo. Só a nossa galáxia tem quatrocentos mil milhões de estrelas, talvez mais, e é apenas uma entre milhões e milhões de galáxias. Partindo do princípio da mediocridade, não somos especiais e a nossa situação é comum no universo, portanto deve haver milhões e milhões de planetas com vida por toda a parte. Imaginemos, numa estimativa muitíssimo conservadora, uns dez ou vinte mil planetas onde a vida apareceu e se desenvolveu como na Terra, só que um ou dois mil milhões de anos mais cedo que aqui. Em quatro mil milhões de anos essa vida pode evoluir no sentido de uma espécie capaz de viajar no espaço, exatamente como nós. No fim de contas, todos os pardais nascem num ninho mas vem o dia em que o abandonam. Chegará o momento em que essas civilizações extraterrestres sairão dos seus planetas, seja por mera curiosidade, seja porque esses planetas se tornarão inabitáveis como daqui a uns milhões inevitavelmente acontecerá à Terra. Estou certo?”
O rapaz andar a estudar a lição, pensou Leonard, divertido. Os dados factuais eram corretos e o raciocínio impecável.
“Certíssimo.”
“O que poderá fazer uma civilização que tenha mil milhões ou dois mil milhões de avanço sobre nós?”
“Bem… pode ir toda a parte, suponho eu. Com dois mil milhões de anos de avanço sobre nós, uma civilização extraterrestre tem decerto capacidade para desenvolver tecnologia formidável, tão avançada que a nós nos parecerá magia pura.”
Como já tinha dito na longínqua antevisão, tenho muito menos dúvidas em relação à existência de vida extraterrestre do que em relação à existência de Deus e daquilo que defendem as várias religiões, ainda que saiba muito pouco daquilo que já foi descoberto por esse universo, mas sabia que com este livro iria aprender muito sobre o tema.
“As Viking detetaram mesmo vida em Marte.”
“É o que se conclui dos resultados positivos da terceira experiência e da revisão do resultado das outras experiências, e em particular da primeira. Foi efetivamente detetada vida.”
“Mas a NASA não o reconhece.”
“Não.”
O olhar de Tomás fixou-se nas nuvens para lá da janela.
“Para descobertas extraordinárias são necessárias provas extraordinárias”, disse, repetindo o lema dos astrobiólogos. “Sabe, Emese, talvez só se possa anunciar a vida extraterrestre quando ela for diretamente observada, ou em vida ou em fósseis. Precisamos de uma fotografia, de um vídeo, de qualquer coisa visual. Só isso nos convencerá para além de uma dúvida razoável.”
A astrobióloga da Agência Espacial Europeia nada disse durante alguns momentos, como se ainda estivesse a ruminar a terceira experiência das Viking em Marte. Mas o seu silêncio não durou muito.
“Esse critério também já foi comprido.”
“Perdão?”
Emese arqueou as sobrancelhas, enfatizando assim a sua revelação.
“A vida extraterrestre já foi observada directamente.”
Como sempre adorei a história, tendo partes mais paradas do que outras, fomos seguindo a aventura de Tomás Noronha pelo espaço, desde os treinos para a missão até ao encontro com os nossos “amigos” extraterrestres. Para variar, lá estava uma esbelta senhora pronta a por em causa o futuro casamento do criptanalista português, até mesmo no espaço (há lá com cada fetiche!). Claro que esta como outra aventura qualquer onde se mete Tomás não poderia ser tão linear como chegar, ir ao espaço, “falar” com os E.T.s e voltar para casa. Mais livro, menos livro e ainda vejo Tomás Noronha a vestir a capa do super-homem.
“A minha opinião é que os cientistas passam a vida entretidos a descobrir as leis da física e as suas aplicações práticas, mas proíbem-se a si próprios de fazer as perguntas que se impõem, incluindo as mais importantes de todas. De onde vêm estas leis? Quem determinou os seus valores? Como o fez? Quando? E porquê? Estas são as perguntas mais incómodas. Não vemos nenhum cientista com coragem suficiente para as formular.”
“É verdade, tenho de o admitir.”
“O que nos remete, não para as perguntas, mas para a respetiva resposta”, disse Tomás. “Como já notou, se uma única das múltiplas constantes da natureza fosse ligeiramente diferente, a vida no universo não seria possível.”
“Afirmativo.”
“Não vê que isto nos transporta para a solução do maior mistério da condição humana?”
“Que quer dizer com isso?”
O historiador hesitou antes de responder. Sabia que o que ia dizer perturbava os cientistas, mas a verdade é que ele próprio tinha uma mente pouco convencional e sentia-se disposto a enunciar tudo, mesmo o politicamente mais incorreto, desde que fosse verdadeiro. A verdade, acreditava ele, não dependia de modas, de humores ou de conveniências. A verdade era a verdade e uma mente genuinamente científica não devia nunca ter medo de a enunciar.
“A afinação do universo prova que Deus existe.”
“Como você disse há pouco, Seth, o Deus das religiões é uma criação humana. Em ciência não há lugar para superstições nem para o sobrenatural, até porque o sobrenatural não passa do natural que não compreendemos. Quando falamos numa entidade intencionadora revelada pela afinação do universo para a vida, não estamos a falar do Deus do judaísmo, do cristianismo, do islão ou de qualquer outra religião. Estamos a falar de uma entidade inteiramente natural.”
Senti falta dos enigmas habituais, o que embora tenha sido explicado, tira algum significado à necessidade de Tomás Noronha fazer parte da equipa que parte em viagem de reconhecimento de Phanes. Depois, ainda que compreenda muito bem a razão de não acontecer, desiludiu-me a falta de coragem, perante os desastres que aconteceram, do autor não ter tido a coragem de dar o descanso que Tomás Noronha e os acontecimentos exigiam. Ainda assim, isto são dois pequenos pormenores numa história fantástica e que me deixou preso e sempre com vontade de continuar a ler mais e mais!
“Como a vida no nosso planeta emergiu da auto-organização espontânea da matéria inanimada e parece resultar de mecanismos automáticos da química explicativa, e considerando que é capaz de existir em ambientes bem mais extremos do que se pensava, a consequência lógica é que, sendo as leis da física e da química iguais em todo o universo, o mesmo acontecerá pelo cosmos fora sempre que as condições mínimas para tal estiverem reunidas. A vida formar-se-á seguindo os princípios universais da física e da química, da mesma maneira que a água se formará noutros planetas segundo os mesmos conceitos universais.”
No fim, a última questão que se levanta é: será que vamos querer saber o que está por esse universo fora e mais importante que isso, se seremos capazes de cuidar das ameaças que daí advierem.
“Deixem-me ver se percebi bem”, disse Tomás. “Vocês acham que a… enfim, que Nemesis está a tentar assumir o controlo da navegação do Atlantis para levar o shuttle a reentrar na atmosfera terrestre e assim contaminar todo o nosso planeta?”
A resposta do Controlo de Missão foi pronta.
“EVA, afirmativo. A sua missão é a ecofagia.”
O português não reconheceu a palavra.
“Ecofagia?”, questionou. “O que é isso?”
“Ecofagia, ou comer o ambiente. Os nano-robôs de Nemesis dão replicadores que fazem cópias de si mesmos, e as cópias também se copiam a si mesmas, e assim sucessivamente. A progressão de replicação é rápida e exponencial.”
Emese interveio,
“Houston, qual é a taxa de replicação?”
“EVA, Houston. Calculamos que cada nano-robô de Nemesis leva um minuto e meio a produzir uma cópia de si mesmo. Isto significa que ao fim de dez horas haverá mais de sessenta e oito mil milhões de nano-replicadores. Num dia serão tantos que pesarão uma tonelada e em dois dias terão o peso de toda a Terra.”
“O quê?!”
“Mas antes de isso acontecer o calor libertado pelo processo já queimou a biosfera”, acrescentou Billy lugubremente. “Os seres vivos de carbono cujas as moléculas não forem transformadas em nano-robôs de silício morrerão incinerados ou asfixiados. A vida como a conhecemos será extinta em menos de quarenta e oito horas.”
E vocês, gostam deste tema? Já leram este livro? Gostaram? Comentem
A todos obrigado, bom fim-de-semana e até à próxima!