A minha avó e a minha sobrinha (bisneta)!
Olá a todos, bem-vindos a mais um texto para o desafio lançado para o mês de Março pelas meninas do The Bibliophile Club. Como já previa, falar a sério não tem sido fácil, mas como eu às vezes devo ser masoquista, volto hoje para falar de mais uma Mulher da minha vida. Preparem-se, eu já trouxe os lenços, não vai ser nada fácil porque hoje é dia de falar DA Mulher da Minha Vida: A Dona Isalinda.
A Dona Isalinda é a minha avó paterna e durante a minha infância ela foi sempre uma avó das antigas, daquelas que só estava bem com os netos pela mão, babada e orgulhosa. Desde que me lembro de ser criança, já a Dona Isalinda me traumatizava sempre que vinha o Carnaval.
Como se isso não fosse suficiente, ainda achou que seria engraçado por os dois netos no rancho folclórico! Quando eu “acordei para a vida” aquilo já fazia parte da minha agenda, agora não me perguntem como é que dançava porque já não me lembro, mas tenho para mim que não devia ser bom tendo em conta a minha coordenação motora actual (ao nível de um bêbado em coma alcoólico)! Desse tempo lembro-me ainda de ser tão magrinho, que para a roupa não me cair toda enquanto dançava, a minha avó prendia as meias aos calções com uns alfinetes… às vezes também prendia a perna aos alfinetes, não me fosse saltar a perna fora!
Aquelas meias e calções tão um mimo!
Já as pernas, imagino...
Depois disto, é o tempo que passa a correr e já na adolescência, o meu avô adoeceu, ficou acamado e o pai e a minha madrasta acharam que a minha avó poderia precisar de ajuda e aí decidimos os três que seria eu a ir morar com a minha avó para a ajudar no que ela precisasse (pelo “trabalho” que fiz nesse tempo, acho que só precisou de companhia). Depois, infelizmente, o meu avô acabou por falecer, e aí então é que não fazia sentido nenhum voltar à casa do meu pai. Mais uma vez, decidimos que eu ficaria a viver com ela definitivamente.
A partir daí o objectivo principal passou a ser ela, isto enquanto estudava e tentava concluir o 12º Ano. Óbvio que me diverti muito com os meus colegas, mas a ideia era ir às aulas e assim que pudesse voltar para casa, não fosse ela precisar de alguma ajuda… mas na realidade quem ajudou e muito foi ela, que permitiu que eu concluísse o ensino secundário mesmo depois de precisar de repetir duas disciplinas.
No fim de mais este sacrifício dela, a ideia era eu começar a trabalhar e poder finalmente retribuir-lhe alguma coisa, mas Deus ou o Destino ou o Universo ou o cacete em que qualquer um acredite, não deixou que isso acontecesse e no dia 26 de Setembro de 2007, a minha avó (a dias de voltar a casa depois de uma cirurgia “simples” ao joelho) teve um ataque cardíaco e faleceu no hospital.
Já todos perdemos alguém de gostamos, mas só aqueles que perdem a pessoa mais importante da vida deles percebem aquilo que eu senti. Sim, a minha avó era a pessoa mais importante da minha vida. Era com ela que eu planeava aquilo que iria (iríamos) fazer a seguir. Sinto que fiquei viúvo aos 20 anos!
Os primeiros dias, semanas talvez, andamos ali dormentes ao sabor do vento, conforme as pessoas nos vão apoiando e sugerindo coisas, nós fazemos nem questionamos, parecemos uns zombies. Depois vêm as saudades e a noção de aquela ausência é real. Eu fazia a minha vida, ia trabalhar e tinha este pensamento montes de vezes: “vou chegar a casa e dizer isto à minha avó”. E ao mesmo tempo que aparece esse pensamento, aparece logo outro que diz: “agora já não podes”!
Não fui diagnosticado, nem preciso de um médico para ter a certeza que tive anos deprimido. Claro, fui andando, trabalhando, fazendo a minha vida, e sendo uma pessoa bem disposta tentei rir e fazer rir os outros (é das coisas que mais alivia a dor, é ver que tu podes estar uma merda e mesmo assim consegues “enganar” alguém, fazendo-a rir e com isso dar a ideia que estás a reagir e que o “pior” já passou). E até talvez fins de 2011, início de 2012 eu diria: Não, não passou, nem nunca vai passar!
A partir daí e quase em simultâneo apareceram duas coisas na minha vida, que acredito verdadeiramente mudaram tudo: a minha banda favorita, Alter Bridge, onde achei o conforto e percebi que não era o único a passar por aquela situação (quando ouvirem a música deles que vou deixar aqui, acho que vão perceber); e descobri também o amor pelo livros e pela leitura, que contribuíram para que o meu cérebro voltasse a acordar.
Desde então, encerrei este capítulo, aceitando que a vida é assim, que tudo isto faz parte e que é preciso reagir, porque não é por não reagirmos que as pessoas de quem gostamos voltam, sobre isso não há nada a fazer. Dói, dói muito, mas com o tempo, acreditem, vai doendo menos e não é por doer menos que deixamos de gostar ou que nos esquecemos dessa pessoa, é a vida a andar para a frente, a tirar algumas e a dar-nos outras. Por isso agora só posso matar saudades da mulher da minha vida quando ela aparece nos meus sonhos e é isso que tenho feito, é com cada beijo e abraço, pelo menos até acordar de sorriso nos lábios! Agora quero ver quem é que vai limpar a inundação que está neste quarto…
Ouvir isto ao vivo (em acústico) foi
das melhores e das piores sensações,
tudo ao mesmo tempo!