“Gostas do Que Vês?” é o segundo romance da jovem autora portuguesa Rute Coelho. Neste livro acompanhamos as vidas de duas mulheres com o mesmo problema: viver com excesso de peso numa sociedade moderna cada vez mais preocupada com a beleza exterior, nem que para isso prejudiquem, tanto ou mais, a sua saúde do que se vivessem com uns quilos a mais.
De um lado temos Natália, a típica mulher com excesso de peso, mas com uma auto-estima anoréctica. Não sente que mereça nada de bom na sua vida, com excepção de bolos e chocolates. É gorda caraças, as gordas merecem o quê?! É basicamente este o seu modo de pensar e viver.
“Nunca fui dada a confrontos. Prefiro esconderijos: grutas e lugares recônditos, entrelinhas onde ninguém me encontre. A minha gordura é só uma montanha que poucas pessoas terão a ousadia de escalar até me descobrir.”
Natália
No lado oposto está Cecília, que vê no seu volume não um problema, mas uma forma diferente de beleza, com curvas, imagine-se! Ela sente ser bem mais que o seu corpo e não será isso que a impedirá de ser feliz e desafiar todos os padrões instituídos actualmente.
“«E sessões fotográficas nua, propõe-se fazer?»
«Porque não? O nu com curvas vale menos do que o nu com ossos?»”
Cecília
Estas personagens não se conhecem e só se cruzam uma vez, por acaso (será?!), e por razões distintas.
Acho que esta obra, embora pequena, cumpre o seu objectivo. Não preciso de quinhentas páginas de hambúrgueres e estrias para a mensagem principal ser compreendida. Está bem escrita, e aborda os dois lados da mesma moeda e como duas abordagens distintas ao mesmo “problema” geram resultados, também eles, díspares, sem que nenhum deles seja o certo ou errado.
“Há quem julgue que ser gordo é uma escolha, uma vontade deliberada e reiterada de fruir cada garfada ou cada dentada em tudo o que apetece, incluindo bolos repletos de calorias. Não sei se se escolhe viver assim, com medo dos espelhos que não nos devolvem sorrisos, da pele flácida e dos sonhos suspensos em cristais de açúcar. Eu não escolheria. A verdade é que vivi assim durante muitos anos.”
Natália
Sou, obviamente, defensor da igualdade de género e por isso fiquei curioso por ler sobre este tema, mas na perspectiva masculina. Espera aí… Eu sou gordo… e gosto de escrever… é isso mesmo, vou escrever essa história. Tendo conhecimento de causa nem seria preciso muita investigação. Vamos a isso:
“Era uma vez um gordo… Fim”.