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Carola Ponto e Vírgula

Carola Ponto e Vírgula

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Olá a todos, espero que tenham sobrevivido ao Dia do Livro e a todas a promoções desse dia. Eu ainda estou em recuperação, tentei resistir e aguentar, mas não deu! Eu sei, sou um orgulho para os departamentos de marketing das lojas e livrarias, já para a minha carteira… ela diz que sou uma desilusão e que devia procurar ajuda! Por isso, ajudem-me: Não fui o único, pois não?!

Agora vamos ao assunto que nos traz aqui hoje: a minha opinião sobre o livro do mês que escolhi para o “The Bibliophile Club”. Com Thrillers e Mistério para o mês de Abril, fiquei com um grave problema: como é um dos meus temas favoritos, não se adivinhava uma escolha fácil e rápida no meio de tantas hipóteses que tinha em casa. Foi então que graças a uma sugestão nos comentários do grupo, que acabei por escolher um livro que tardava em lê-lo: “Os Homens que Odeiam as Mulheres”, o primeiro livro da saga Millennium de Stieg Larsson, edição D. Quixote.

 

 

“Vanger baixou os olhos para as mãos, e então bebeu um golo de café, como se precisasse de uma pausa antes de conseguir finalmente falar do que queria.

— Antes de começar, Mikael, gostaria de chegar a um acordo contigo. Quero que me faças duas coisas. Uma é um pretexto, a outra é o verdadeiro objectivo.

— Que espécie de acordo?

— Vou contar-te uma história em duas partes. A primeira é a respeito da família Vanger. É o pretexto. É uma história comprida e sombria, e eu vou tentar cingir-me à verdade nua e crua. A segunda parte da história tem que ver com o meu verdadeiro objectivo. Provavelmente, vais achar que uma parte desta história é… louca. O que quero de ti é que me ouças… que ouças o que quero que faças e também o que ofereço… antes de decidires se aceitas ou não o trabalho.”

 

 

 

A história anda em torno de Mikael Blomkvist, um jornalista caído em desgraça graças (e este trocadilho ?!) a uma condenação por difamação contra o poderoso Hans-Erik Wennerström. No entanto e enquanto decide fazer uma pausa na direcção da revista Millennium, Mikael é convidado a escrever a história de vida da família, do outrora importante industrial na Suécia, Henrik Vanger. Esta história é, no entanto, uma fachada para aquilo que o velho Vanger quer investigar, nada mais nada menos que o desaparecimento da sua sobrinha-neta, Harriet, desaparecida há quase quatro décadas.

 

“— Tenta compreender — insistiu Vanger. — Sou um homem que vai morrer em breve. Há uma coisa no mundo que quero ter… a resposta para a pergunta que me tem perseguido toda a minha vida. Não espero encontra-la, mas tenho recursos para fazer uma última tentativa. Será isto irracional? Devo-o à Harriet. Devo-o a mim mesmo.

— Irá pagar-me milhões de coroas para nada. Tudo o que tenho de fazer é assinar o contrato e deixar correr o marfim durante um ano.

— Não o farás. Pelo contrário… trabalharás mais duramente do que alguma vez trabalhaste em toda a tua vida.

— Como pode ter a certeza?

— Porque posso oferecer-te uma coisa que não poderias comprar por dinheiro nenhum, mas que queres mais do que tudo no mundo.

— E o que poderá isso ser?

Vanger semicerrou os olhos.

— Posso dar-te o Hans-Erik Wennerström. Posso provar que é um vigarista. Acontece que há trinta e cinco anos, começou a sua carreira comigo, e eu posso oferecer-te a cabeça dele numa bandeja. Resolve o mistério e poderás transformar a tua derrota no tribunal na história do ano.”

 

 

É a partir daqui que se desenrola toda a acção deste livro que desde o início me soube manter interessado em conhecer todas as personagens que iam aparecendo à medida que ia conhecendo o mundo que rodeia toda esta investigação. Tirando o pequeno inconveniente (que já estava à espera) dos nomes de todos os personagens e localidades, mas que nos fomos habituando, o resto é tudo muito bem preparado e apresentado de uma forma muito natural.

 

“Lisbeth Salander encerrou o motor de busca e desligou o PowerBook. Estava sem trabalho e cheia de fome. A primeira condição não a preocupava por aí além, uma vez que recuperara o controlo da sua conta bancária e Bjurman já assumira o estatuto de um vago incómodo pertencente ao passado. Resolveu a questão da fome ligando a máquina de fazer café. Preparou três grandes sanduíches de pão de centeio com queijo, caviar e ovo cozido. Comeu sentado no sofá da sala, enquanto processava a informação que tinha reunido.

Frode, o advogado de Hedestad, tinha-a contratado para fazer uma investigação sobre Mikael Blomkvist, o jornalista condenado a três meses de prisão por ter difamado o financeiro Hans-Erik Wennerström. Alguns meses mais tarde, Henrik Vanger, também de Hedestad, entrava para a direcção da revista de Blomkvist e denunciava a existência de uma conspiração para esmagar a publicação. Tudo no mesmo dia em que Blomkvist entrava para a prisão. E mais fascinante ainda do que tudo isto: segundo um artigo já com dois anos a respeito de Hans-Erik Wennerström, intitulado «Com duas mãos vazias» e publicado pela Finansmagasinet Monopol, o grande financeiro iniciara a sua carreira precisamente no Grupo Vanger, em finais dos anos sessenta.

Não era preciso ser um génio para perceber que os dois acontecimentos estavam de alguma maneira relacionados. Tinha de haver um esqueleto no armário de um dos dois, e Lisbeth Salander adorava procurar esqueletos. Além disso, não tinha nada melhor que fazer, de momento.”

 

 

Isto sem querer ser muito spoiler, mas como é normal de deduzir, quanto mais Mikael vai investigando e descobrindo, mais inimigos vai fazendo, mesmo sem saber quem são ao certo aqueles que não querem que cumpra aquilo para que foi contratado por Henrik.

Eu gosto muito mais de ir acompanhando a acção em vez de começar logo a especular com teorias na ânsia de descobrir se aquilo que eu penso ser o caminho até ao fim da história se vai confirmar. Neste caso, não se confirma de certeza, até porque a missão de Mikael, e mais tarde da sua ajudante Lisbeth Salander, já era complicada à partida e só foi ficando cada vez mais difícil de chegar com a investigação a bom porto.

 

“Henrik Vanger devia ter olhado para aquela fotografia milhares de vezes, uma dolorosa recordação de que nunca mais voltaria a ver Harriet.

Não fora, porém, a isso que Mikael reagira.

A foto fora tirada do outro lado da rua, provavelmente da janela de um segundo andar. A objectiva grande angular apanhara a parte da frente de um dos carros alegóricos. No reboque havia mulheres envergando fatos de banho cintilantes e calças de harém a atirar guloseimas para a multidão. Algumas dançavam. Três palhaços saltavam à frente do carro.

Harriet estava na primeira fila de espectadores que enchiam o passeio. Junto dela, estavam três outras raparigas, claramente colegas de escola, e atrás e à volta delas havia pelo menos cem outras pessoas.

Fora isto que Mikael notara subconscientemente e que de repente viera à superfície quando o autocarro passara pelo local,

A multidão de espectadores comportava-se como qualquer outra multidão de espectadores. Os olhos das pessoas seguem sempre a bola numa partida de ténis ou o disco num jogo de hóquei no gelo. As que estavam mais à esquerda olhavam para os palhaços, mesmo em frente delas. As mais próximas do carro olhavam para as raparigas escassamente vestidas. As expressões dos rostos eram calmas. As crianças apontavam. Algumas riam. Toda a gente parecia feliz.

Toda a gente menos Harriet.

Harriet Vanger estava a olhar para um dos lados. As três amigas, e toda a gente em redor, olhavam para os palhaços, mas o rosto de Harriet estava voltado 30 a 35 graus para a direita. O olhar dela parecia fixado em qualquer do outro lado da rua, mas para lá do limite esquerdo da fotografia.

Mikael pegou na lupa e tentou distinguir os pormenores. A foto fora tirada de demasiado longe para que pudesse ter a certeza absoluta, mas, ao contrário dos que a rodeavam, o rosto de Harriet estava mortalmente sério. A boca dela formava uma linha fina e direita. Tinha os olhos muito abertos. Os braços pendiam-lhe molemente ao longo do corpo. Parecia assustada. Assustada e furiosa.”

 

 

Adorei esta história, adorei conhecer este mundo, mas mais que tudo isso, as personagens acabam por ser aquilo que mais me marca: complexas, bem descritas, com personalidades marcantes e cada uma original e bem diferente das outras. Conseguimos “ver” e imaginar perfeitamente as personagens e os seus comportamentos, cativaram-me logo nos primeiros capítulos e a partir daí não mais pararam.

 

“— Não gostas de deixar nada ao acaso, pois não? — comentou Mikael, enquanto lhe servia café.

— Mais uma coisa. Acabaram-se as corridas até resolvermos isto.

— Acredita, perdi todo o interesse no exercício físico.

— Não estou a brincar. Isto pode ter começado como um mistério histórico, mas com gatos mortos e essa história de tentarem estourar-te a cabeça, podes ter a certeza de que andamos a pisar os calos a alguém.

Jantaram tarde. Mikael estava de repente mortalmente cansado e com uma terrível dor de cabeça. Já mal conseguia falar, de modo que foi para a cama.

Lisbeth ficou a ler o relatório até às duas da manhã.”

 

 

Para já, é o melhor livro do ano e já me deixou ansioso para ler o próximo da saga! Entretanto, irei ver os filmes suecos baseados nesta colecção conforme vá acabando cada livro. E vocês já leram?! Gostaram?! Que livro é que escolheram para o tema deste mês? Correspondeu às vossas expectativas?! Digam-me tudo!

Como sempre, obrigado pelo apoio e até à próxima

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