Olá pessoal, bem-vindos. O livro que vos trago hoje, deve ser um completo desconhecido da maioria, já que não vejo nenhuma review dele por esses blogues e Bookstagrams. Mas isto também é uma das coisas que mais gosto enquanto leitor: ler algo que a maioria não conhece. Pode, por vezes, ser um tiro no pé (tendo em conta o tema do livro se calhar é demasiado), mas também foi assim que achei livros que ainda hoje são dos meus favoritos.
Temos então “Vocês Não Me Conhecem” (título original: You Don’t Know Me) de Imran Mahmood editado em Portugal pela Bertrand Editora.
Imran Mahmood é um advogado de defesa especializado em casos de crimes violentos, por isso é estranho e curioso que a história comece exactamente pela dispensa do advogado de defesa por parte do arguido aquando das alegações finais, para ser o próprio arguido a seguir com a sua defesa tentando convencer o júri que, embora todas as provas e circunstâncias o apontem, não foi ele quem matou Jamil.
“Portanto, o que eu estava a tentar dizer era que este advogado de acusação gosta de tentar baralhá-los, mas não podem deixá-lo fazer isso. Têm de afastar a cortina de fumo e olhar como deve ser para aquilo que ele está a tentar dizer. Ele gosta do fumo porque quando há fumo, o mais natural é fecharem os olhos.”
Mais uma vez regressamos a um daqueles bairros problemáticos, onde tráfico de droga, armas e o crime são presenças assíduas. É estranho como em pouco mais de dois meses, já li três livros em que esta realidade é o cenário principal (Se Esta Rua Falasse, O Ódio Que Semeias e agora este Vocês Não Me Conhecem). Todos com muitos pontos em comum, mas também diferentes nos temas abordados.
Aqui estamos presos num tribunal, nas alegações finais, enquanto o arguido tem a palavra para se defender de todas as provas que o incriminam por homicídio. E ele faz isso mesmo, dizendo que ao contrário do seu advogado, ele quer dizer a verdade, toda a verdade, para que o júri realmente o conheça e saiba tudo o que se passou antes, toda a sua vida, até esta altura em que faz a sua defesa.
“A biblioteca da prisão é uma porcaria, de uma forma geral, mas de vez em quando encontramos alguma coisa que é como encontrar uma nota de dez libras na rua. É como se Deus tivesse largado a coisa certa nas nossas mãos, só para nós. Encontrei um livro chamado The Hammerman. Escolhi-o porque pensei que era uma história de terror ou coisa do género. Tipo uma história inventada, mas não era. Era um daqueles livros realistas. Fala sobre a África do Sul nos velhos tempos. Li-o e não conseguia para de pensar nestes miúdos que fazem parte destes gangues. É a mesma coisa, deixem-me que lhes diga.
Portanto, estava a acontecer aquela cena do apartheid. Uns quantos brancos a mandar em todos os negros. Se a pessoa fosse negra e tivesse sorte, podia ser criada de um tipo branco. Mas se tivesse azar, até podia ser morta apenas por dizer alguma coisa a um branco. Brutal. E se eu estivesse a ser julgado lá, nesse tempo, todo este caso ficaria encerrado num dia. Num dia. E só haveria um veredito: culpado. Prisão perpétua. Fim de jogo. Mas se fosse branco e matasse um negro, não acontecia nada.”
A premissa a mim parecia-me interessante e foi por isso que o comprei e que agora decidi lê-lo. No entanto e apesar da história me ter entretido, esperava outra coisa, algo mais surpreendente e não um relato puro e duro (e por vezes demasiado extenso) de todos os pormenores que o levaram ao banco dos réus.
Se no livro anterior dei 3 estrelas no Goodreads, mas ressalvei que seriam na realidade 3,5 estrelas, neste acabei por dar as mesmas 3 estrelas, sendo que este seria na realidade 2,5 estrelas. Isto faz sentido assim?! Não! Mas é assim a vida de um leitor, ou pelo menos deste leitor, incoerente e sem sentido nas avaliações! Pessoalmente prefiro as avaliações de zero a vinte.
“Uma das primeiras coisas que fiz foi ir ao apartamento dela para lhe trazer algumas coisas. Alguma roupa, sim, mas sobretudo alguma coisa para ela ler. Kira precisava dos livros à sua volta. Eram como amigos para ela. Ou mesmo família. Eu sei que é estranho, mas as pessoas que gostam de livros são estranhas, acreditem.”
Lá está, não é um livro mau, mas eu tinha outras expectativas e ficou um pouco aquém, mas é um bom livro para quem queira conhecer todo o cenário de um tribunal e de como por vezes as provas, sendo essenciais, não contam toda a história.
E vocês o que andam a ler? Qual foi a última grande surpresa literária?! E já agora, a última grande desilusão? Como sempre comentem à vontade, bom fim-de-semana e até à próxima.
“— Então — digo, puxando Curt para o pé de mim — achas que podemos estar safos?
— Sim, é possível. Guilty não acredita nos boatos de que eu estava na casa de crack. Acho que, em parte, até gostava de ter sido ele a roubar Jamil. Odeia-o cá de uma maneira!
— E se os Cotas tiverem mão pesada? Como é que é?
— Não, meu. Os Golckz são um gangue a sério. Não me parece que vão recuar diante dos Cotas. Vai haver uma guerra, sim, mas acho que estamos safos desde que fiquemos sossegados no nosso canto — diz, e vira-se para voltar para a cozinha.
— Passa por lá amanhã, se puderes. Ainda temos alguns pormenores para acertar, né? — digo para as suas costas, e depois vou-me embora.
E digo-lhes uma coisa. Juro que, naquele momento, pensei que a coisa estava arrumada e que nós estávamos a salvo. Mas desconhecia o tipo de homens a que Jamil estava ligado. Foi isso que mudou tudo, suponho. Um homem que as pessoas conheciam simplesmente como Face.”